segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

COLAÇÃO DE GRAU: uma ex-cerimônia.

Há vinte e dois anos atrás foi a minha colação de grau. Eu nunca havia participado de ato tão solene, fiquei emocionada quando ouvi o meu nome e me encaminhei ao paraninfo do curso que incumbiram de me entregar o certificado de conclusão de curso. Emoção parecida eu só sentira quando ouvi meu nome no rádio da casa em que trabalhava, anunciando a minha entrada para a universidade. Lembro-me da cerimônia, estávamos todas tão eufóricas que aquelas cadeiras duras improvisadas, nas quadras do ginásio Chico Neto nem pareciam incomodar a quantidade de tempo que teríamos de ficar ali. Confesso que não era tarefa fácil ouvir o nome de mais de quinhentos formandos, de cursos diferentes. Entretanto, a boa conduta ditava que o primeiro a ser chamado e o último teriam igual importância na escala social, pelo menos na entrega dos certificados.
Nunca mais participei de ato tão solene. Sexta feira passada fui à colação de grau do meu filho. Ele foi primeiro, pediu para que nós, os familiares, chegássemos depois das 19h. Quando entrei no pátio coberto do Parque de exposição Francisco Feio Ribeiro, assustei-me, pensei que a entrega já tinha terminado. Tentei me interar da situação. Não consegui. Aonde estava o ato solene? Quem eram aquelas pessoas? Eram realmente universitários formados? Teriam se preparado para respeitar as leis sociais? E seus familiares? Aonde estava a emoção dos pais e amigos ao ouvir o nome de seus formandos? Quem foi o primeiro a ser chamado? De qual curso? Quando chamaram o nome do meu filho? O que estava acontecendo?
Os primeiros formandos pegavam seus certificados e saiam do lugar, iam tirar fotos, levantavam, corriam para pegar as bexigas. A mestra de cerimônia solicitava encarecidamente que todos se sentassem, que respeitassem aos demais. Todas as súplicas eram negadas. Parecia um parque de diversões para crianças, era uma balburdia só. O estúdio fotográfico que organizaram para pós-cerimônia estava lotado, vendiam-se refrigerantes, águas, dentro do estabelecimento. Crianças choravam, corriam, parecia um estádio de futebol em época de jogos escolares. Como não consegui ouvir o nome do meu filho e o vi de longe tirando fotos com os amigos, tentei focar minha atenção à homenagem que fariam aos pais. Neste exato momento, ao meu lado duas pessoas começaram a se estapear, gritavam, xingavam mutuamente. Eu não sei se eram da mesma família, se eram inimigas, se tornaram-se inimigas ali. Sei que presencie uma cuspindo na cara da outra. Não entendi nada. Alguns formandos saíram das cadeiras, entre eles o meu filho, chamando-me para tirarmos fotos, protestei, disse que era descortês para com os demais, que deveríamos esperar o término da cerimônia. Ele riu. “-Que cerimônia, mãe?!”. Ele tinha razão, não havia cerimônia. Fui.
Fátima Sena
Educadora da rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná.

Um comentário:

  1. Lamentável, se não desesperador!
    Parece que tudo se tornou uma piada mesmo!
    Daquelas: "novos desempregados"... ter diploma se tornou algo rotineiro! Não há mais lutas!

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